Alexandra Loras, a francesa que se tornou referência em debates sobre empoderamento feminino e combate ao racismo no Brasil, será palestrante no encerramento da VI Jornada Catarinense da Mulher Advogada.
Jornalista, ex-consulesa e empresária, Loras conversou com a equipe de comunicação da OAB/SC sobre os temas que pretende abordar em sua palestra “Desafios no Empoderamento Feminino”, em Joinville. Confira abaixo:
OAB/SC: Você acredita que as questões de gênero e raça ainda interferem na vida profissional da mulher? Por que isso acontece?
Alexandra Loras: Sim, acredito muito que as questões de gênero e raça ainda interferem na vida profissional da mulher. Muitas mulheres ainda sofrem com a síndrome do impostor, que é quando, por exemplo, uma mulher com grandes responsabilidades em uma empresa, não se sente capaz ou legítima para merecer seu cargo ou função, ou sente que não tem legitimidade para subir na escala, subir na parte executiva da empresa. As mulheres estão saindo mais diplomadas da universidade do que os homens, mas ainda temos muita dificuldade para nos sentir legítimas nesses espaços de poder.
Também porque somos criadas numa narrativa que inferioriza a mulher de maneira muito subliminar. Desde o início, os livros infantis e os desenhos animados sempre relatam as mulheres como sem talento, sem potencial e, além disso, elas devem entregar todo esse potencial para um príncipe encantado que vai libertá-las e resolver seus problemas. Assim as meninas crescem sem se dar conta que elas também podem ter aventuras e ter protagonismo.
Por exemplo, se você olhar uma coisa simples como um carro: damos carros para os meninos, mas hoje as mulheres também tem carros. Elas dirigem para o trabalho, mas ainda temos muita dificuldade de entregar um carro para as meninas. E o que esse carro simboliza? Aventuras, correr riscos, descobrir o mundo… Ou seja, desde o início construímos um papel para a mulher e um papel para homens. Precisamos debater mais sobre isso e enxergar que o problema é muito maior do que imaginamos.
OAB/SC: Por que o empoderamento feminino é tão importante ?
Alexandra Loras: É importante porque é uma forma de reequilibrar o que nos foi dado. O fato de sermos inferiorizadas na narrativa televisual, por exemplo, na mídia tem só 24% de mulheres… Por isso temos que lutar para reequilibrar nossa sociedade. Nestes 24% não vemos o tipo de sociedade equilibrada e democrática que gostaríamos de ver. Precisamos ver juízas, mulheres executivas, mulheres chefas… Não só na cozinha ou como apoio da família. O empoderamento feminino é uma forma de caracterizar e de enxergar o problema, debater sobre ele e ver como mulheres podem inspirar umas às outras a lutar, para poder se desenvolver e ser a melhor de si mesma.
OAB/SC: Você é francesa mas mora no Brasil. Os desafios da mulher brasileira são diferentes da francesa? Como você avalia o combate ao machismo nestes dois países?
Alexandra Loras: O combate ao machismo, para mim, não deve ser um combate. Deve ser uma obra em construção da qual todos fazemos parte, tanto os homens quanto as mulheres. O debate sobre machismo e o feminismo precisa ser aberto para ambos. Todos fazemos parte dessa sociedade. Muitas vezes os homens não percebem o quanto eles têm privilégios de fato, então precisamos debater, ensinar e mostrar para eles.
Por exemplo, quando se oferece uma vaga executiva numa empresa, se um homem tem 30% dos requisitos no currículo dele para esta vaga, ele vai se candidatar, enquanto uma mulher vai necessitar de 85% dos requisitos para se sentir capaz de postular para essa mesma vaga. Estes são dados e pesquisas sérias, que mostram a desigualdade subliminar e sutil que existe dentro da sociedade e o fato de falar sobre ela é uma forma de endereçar o problema e achar soluções juntos.
OAB/SC: Como as mulheres podem agir para se fortalecer e diminuir a desigualdade de gênero?
Alexandra Loras: As mulheres podem agir para se fortalecer e diminuir a desigualdade de gênero ao se dar conta de que já somos 52% do planeta. E também damos a luz para os 48% de homens. Somos muito mais fortes e poderosas do que acreditamos.
Mas estamos educando nossos meninos e meninas dentro de um machismo e sexismo subliminar, estamos reproduzindo os valores errados do passado dentro de nossas famílias. Então é importante enxergar isso para poder reavaliar, adquirir novos valores, novos pensamentos e novas reflexões para mudar isso.
É importante entender que nossa sociedade nos ensinou a ser desunidas, a estar numa narrativa de competição. Por exemplo, através da narrativa da princesa, onde existe somente um príncipe pelo qual as mulheres precisam competir para conquistar, esta é uma forma de nos desunificar. Precisamos nos unir para entender que juntas somos mais fortes. É importante nos apoiarmos e assim ajudar nossas comunidades a crescer de forma mais democrática, mais igualitária… Juntas.
SOBRE A JORNADA
A Jornada Catarinense da Mulher Advogada, dias 5 e 6 de outubro, em Joinville, será um importante fórum de discussão de assuntos relacionados à mulher e a carreira da advocacia. Para facilitar a participação das advogadas, haverá um desconto especial para as inscrições feitas em grupo.
A cada três inscrições o valor será R$ 210,00, ou seja, R$ 70,00 por pessoa. Na inscrição, que pode ser feita no site da OAB/SC, basta gerar apenas um boleto no valor de R$ 210,00 e enviar um email para cgc2@oab-sc.org.br com o nome das três inscritas.
Assessoria de Comunicação da OAB/SC